Yumiko Yoshioka na Espanha

Uma das grandes felicidades do estudante é encontrar sua professora. Eu experimento este prazer, nestes dias, reencontrando Yumiko Yoshioka. O começo de sua carreira deu-se na Ariadone, companhia japonesa que, em 1978, apresentou o butô ao Ocidente. Acho graça no destino prenunciado por este nome: estar com esta dançarina restitui o fio que me liga ao princípio das coisas.

Hoje, na abertura do curso, os estudantes, como é comum, inquietavam-se: afinal, o que é o butô? Yoshioka, com a sabedoria dos anos de prática, calmamente esclareceu: “É uma pergunta, como a vida”.

A explicação fez nascer em mim um silêncio, destes que nos surpreendem quando já não faltam as palavras. Não digo que me saciei, livrando-me da inquietação. O que aconteceu é que, de repente, a mestra me liberou de uma lógica.

É possível que experienciar as coisas seja menos dar solução ao mistério e mais alimentar as suas perguntas. Daí que, talvez, a missão de uma geração não seja entregar alguns porquês (prontos, concluídos) àqueles e àquelas que a sucedem, mas transmitir as dúvidas renovadas de sentido. A vida pode ser um enigma pedindo decifração: “o que vais fazer de mim?” Como crianças ingênuas, podemos também ser o eco que lhe devolve a charada: “que vais fazer de mim?”

Volto para casa como quem sorri com o corpo inteiro. Já posso, enfim, terminar o curso sabendo que nada me será ensinado. Quanto propósito há na falta absoluta de propósito! Quanto aprendizado há, como escreveu Guimarães Rosa, “nonada”.