Tradição e inovação

O poeta e ensaista Octavio Paz desenvolveu uma interessante tese acerca da modernidade euro-ocidental. Fundado num certo elogio à transformação, este moderno recusou tudo o que lhe parecia estagnado, como  os conceitos de tradição, repetição etc. Ao criar linhas continuas de rompimento com concepções arcaicas, porém, a modernidade gerou, paradoxalmente, uma nova tradição: a tradição da ruptura.

O teatro, não raro, valeu-se desta espécie de recusa dos seus antecedentes como um mote para a construção de inovações da linguagem. Esta, no entanto, não é a única estratégia possível. Artistas russos do início do século XX, por exemplo, procuraram a renovação do teatro justamente no tensionamento com tradições outras, como as asiáticas.

Seguindo esta trilha, vemos, contemporaneamente, um renovado interesse por tradições não euro-ocidentais – indígenas, africanas, asiáticas etc. E este contato com outras formas de expressar o humano empurram o teatro para a busca de outras formas para a linguagem cênica.

Há, assim, um jogo entre tradição e ruptura. Por um lado, a palavra tradição não é apenas um amontoado de saberes parados num passado longínquo. Por outro, a pesquisa do novo é impulsionada por relações de alteridade – não só descontinuidades, mas também abertura à continuidades diversas. Desta maneira, podemos ver um novo tensionamento entre tradição e ruptura no lugar da tradição da ruptura.

Shakespeare escreveu que “o mundo todo é um palco”. E, hoje, diga-se, este mundo é vasto e diverso como nunca. A tentativa de encená-lo poderá empurrar o teatro para as suas bordas