Hora de voltar para casa

Uma das aulas mais bonitas que tive na Goldsmiths University of London foi sobre Wole Soyinka, dramaturgo nigeriano. A lição foi ministrada por Osita Okagbue, também nigeriano e chefe do Departamento de Teatro e Performance da Universidade.

Debateu-se especialmente a peça “Death and King’s Horseman”. Ainda em tempos coloniais, o protagonista, segundo a tradição local, deve se suicidar para seguir ou conduzir o espírito do monarca que acabara de falecer. Este argumento dá margem a um arrepiante tensionamento de assuntos e estruturas da tragédia ocidental.

O tema da renúncia de si em favor de uma sociedade também está presente em diferentes dramaturgias clássicas do Ocidente. Por outro lado, contemporaneamente, é difícil debatê-lo profundamente com estudantes europeus sem que renúncia seja entendida como perda de algo.

Isto, Okagbue disse, é muito diferente da vivência do aluno africano. Na Nigéria, exemplificou ele, é comum os jovens buscarem saberes na Europa. Depois da experiência, retornam para a coletividade e validam sua mestria no convívio. “Na minha cultura, não há saber em si ou para si”, ele insistia. “Conhecimento só é digno deste nome quando direcionado em favor da comunidade”. Há pouco sentido, portanto, no estudo com uma perspectiva de “carreira”, ou seja, com a busca de sucesso pessoal sem proveito para os que estão por perto.

Lembrei da aula porque, hoje, estou finalizando uma etapa fundamental de meus estudos: um estágio de pós-doutorado. É hora de voltar para casa. Começa, enfim, o aprendendizado de tudo o que aprendi.

processosEduardo Okamoto